terça-feira, 25 de março de 2025

2 Ihu Kewere: Rezar - 1997 - Marlui Miranda

 
1 - Canto de entrada
Marlui Miranda (adaptação) - Padre José de Anchieta (texto) - Índios Aruá
2 - Kyrie
Marlui Miranda - Eduardo Navarro (tradução para o Tupi)
3 - Glória
Índios Tupari de Rondônia - Marlui Miranda (adaptação) - Padre José de Anchieta (texto)
4 - Aleluia: aclamação ao Evangelho
Marlui Miranda - Padre José de Anchieta (texto)
5 - Credo
Marlui Miranda (adaptação) - Padre José de Anchieta (texto) - Índios Urubu-Kaapor
6 . Ofertório
Marlui Miranda (adaptação) - Índios Aruá - Eduardo Navarro (tradução para o Tupi)
7 - Pai Nosso
Marlui Miranda
8 - Agnus Dei
Marlui Miranda (adaptação) - Padre José de Anchieta (texto) - Índios Aruá
9 - Comunhão
Marlui Miranda (adaptação) - Padre José de Anchieta (texto) - Índios Urubu-Kaapor
10 - Ação de Graças
Marlui Miranda (adaptação) - Eduardo Navarro (tradução para o Tupi) - Índios Urubu-Kaapor
11 - Canto Final
Marlui Miranda (adaptação) - Padre José de Anchieta (texto) - Índios Aruá
 
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Quinto álbum da carreira de Marlui Miranda, estabelece um diálogo entre a fé católica e os cantos solenes de diversos povos indígenas. Tendo a participação da Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo e arranjos de Marlui Miranda, Nelson Ayres, Mateus Hélio e Ruriá Duprat, é um registro extraordinário. 
 
Segue o texto de Marlui para o encarte:
 
"Agnus Dei

Muitas missas étnicas foram compostas, tais como a "Missa Creolla", a "Missa da Terra Sem Males", Yoruba". A Kewere assume os ingredientes culturais dos índios amazônicos brasileiros, distantes de uma tradição musical erudita.

Como pensar numa obra sobre a música indígena e não revisitar a história? 2ihu Kewere: Rezar faz uma abordagem diferente do trabalho anterior, "Ihu. Todos os Sons", que foi uma compilação musical com o objetivo de apresentar diversidade. Ao imaginar Kewere me perguntei: o que poderia soar como um Kyrie indígena? um Glória? um Agnus Dei? um Introito? um Aleluia? Pensei na difícil situação com que se defrontaram os Jesuítas do século XVI pra traduzir os conceitos cristãos para o campo do sagrado indígena. Imaginei-me, entretanto, operando uma catequese sonora ao inverso, obrigando-me a achar onde um Kyrie, um Gloria, um Introito, e assim por diante, poderiam encontrar abrigo no repertório musical indígena selecionado.

Em Kewere, a ideia central é a contraposição de crenças: de um lado, cantos de pajés; de outro, versos cristãos de José de Anchieta e textos da liturgia acomodados dentro da mesma trama composicional. Os cantos indígenas selecionados são de natureza solene, lírica, portanto dignificam e são adequados para serem interpretados por orquestra sinfônica e grande coro sinfônico. Assim, a escolha desta formação pareceu-me pertinente à ideia da catequese, da conversão dos índios a uma religião europeia. A língua tupi ancestral unifica a composição como um todo.

Ao mesmo tempo que o "oratório" nos distancia das origens deles, nos aproxima porque uma parte da interpretação vocal é feita de maneira étnica, evocando personagens indígenas, vozes esquecidas no passado da catequese. Assim, no Kyrie, a índia canta à sua maneira, misturando duas crenças: "Kyrie Eleyson... Tupã oré r-ausubar iepé... Tupã Eleyson...", enquanto, paralelamente, acontece um canto "gregoriano" e um canto de "nominação", este último explicado como uma espécie de "batismo", inspirado na tradição indígena.

Kewere é uma composição de equilíbrio delicado, em que procurei adequar o sentido poético dos Aruá, dos Tupari, dos Urubu-Kaapor. Estes cantos são tão leves e frágeis quanto os espíritos que os trouxeram através do mundo dos sonhos. É nesta estrutura leve que pousam os versos de José de Anchieta.

Marlui Miranda
São Paulo, julho de 1997."
 
O Homem Traça diz: ROAM!
 


Glória

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