segunda-feira, 20 de julho de 2009

Kris Kringle - 1971 - Sondom

Kris Kringle - Sondom - 1971

1 - Louisiana
August-Duncan
2 - Help
Lennon-McCartney
3 - That's my love for you
Alan-Roberts-Harris
4 - The resurrection shuffle
Tony Ashton
5 - Janie slow down
White-Laine
6 - Susie
Terry Johnson
7 - The monkey song
E. Welch
8 - Sarabande
Scott–Beggar’s Opera
9 - Mr. Universe
Burrowes
10 - What you want
August-Duncan

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Há alguns anos eu vi uma exposição de obras vanguardistas do fim dos anos 60. O autor era tratado como um mito, desaparecido no tempo e envolvido na áurea de combate à ditadura. Pois bem, seria apenas mais um se ao final da exposição eu não tivesse descoberto que a exposição o autor e suas "obras" não passavam de invenção de uma moça-pesquisadora que questionava: o que é arte, o suporte, o registro, o artista?

Lembrei desse episódio ouvindo o Kris Kringle. Eu não conhecia esse som. Se me dissessem que era uma fase do Creedence eu acreditaria. Alerta! E se os mitos construídos começarem a se multiplicar com a internet? E se as "raridades" se desmistificarem? E se cada ouvinte puder ter sua própria conclusão, sem a pressão dos preços fetichizados pelos donos de sebos e colecionadores (ou seriam especuladores?)?

O Sílvio Atanes me mandou esse disco, estou ouvindo e gostando cada vez mais, principalmente pelo efeito empático que me provocou. Imagíno-me chacoalhando a cabeleira numa domingueira com essa maravilha de banda botando pra quebra ao vivo, com inglês virtual e tudo mais. Minha parca memória auditiva me alertou para "Susie" (eu já ouvi isso! Será que foi num baile dos Fevers?). Aos fatos! O Sílvio é bom nisso e dá conta da história com seu ótimo artigo abaixo!

"Memphis, de Pinheiros para o mundo

Na pré-história do pop brasileiro, desponta o seminal grupo Memphis, nascido não na terra de Elvis Presley, mas nos bairros de Pinheiros e Aclimação, em São Paulo, no fim dos anos 1960. Com o término do igualmente jurássico Colt 45, os remanescentes Dudu França, Marcos Maynard e Xilo (Juvir M. Moretti), convidaram Nescau (Marco Antônio Fernandes Cardoso), Cláudio Callia e Niccoli (Alberto Niccoli Jr.) para formar outro conjunto de rock. Assim nasceu o Memphis, que estreou no Círculo Militar, em 1968. Dudu também tocava bateria e era o cantor; Maynard tocava guitarra-base; Xilo, guitarra-solo; Nescau, baixo; Nicolli, bateria; e Callia, teclados.


Os membros do Memphis também gravaram com nomes de outros grupos, como Beach Band, Baby Joe, Kris Kringle, Lee Jackson e Moon & Stars. Era a saída para aumentar a oferta e vender mais discos, já que o mercado e, principalmente, as emissoras de rádio pediam músicas em inglês. Essas músicas faziam um tremendo sucesso nos bailes de domingo à tarde, especialmente no Clube Pinheiros e no Círculo Militar, os templos máximos das domingueiras dançantes paulistanas.

Quando o Memphis estava prestes a gravar o primeiro single, "Sweet Daisy", o tecladista Callia deixou o grupo. Rapidamente, Maynard, conhecido como Marcão, assumiu a vaga do órgão para os shows e convocou Otávio Augusto Fernandes Cardoso, o Otavinho, irmão de Nescau, para a segunda guitarra. Outro conhecido nome na cena dos bailes paulistanos na virada dos anos 1970, Otavinho participou das sessões de gravação de "Sweet Daisy"/"Goodbye", quando também assumiu os teclados. Lançado em novembro de 1971, o compacto de vinil, com produção de Cesare Benvenuti, foi um grande sucesso. Benvenuti era o papa das gravações em inglês do lendário selo Cash Box (Discos Copacabana).

Lee Jackson bombou nas paradas


Em seguida, gravaram, com o pseudônimo Lee Jackson, o compacto "Oh oh la la la". A música marca o início da parceria de Otávio Augusto, o futuro fazedor de hits em série Pete Dunaway, com o escocês Robert Duncan. As duas faixas da bolachinha do Lee Jackson ("Oh oh..." e "I found myself alone") levam a assinatura de Otavinho, que aparece como "August", e Duncan. No lado B, Otavinho assume os vocais, dando um trailer de sua grande extensão vocal. Em 1972, Otavinho, lançado pelo produtor musical Cayon Jorge Gadia (Rádio Difusora AM 960 KHz, de São Paulo), assume o pseudônimo de Pete Dunaway – na música-tema da novela “Bel-Ami”, da TV Tupi.


Por causa do êxito de “Oh oh...”, que bombava nas rádios, Maynard resolve deixar o Memphis. Depois do lançamento desse single com a formação do Memphis, Marcão se junta ao pessoal do Amheba e monta um grupo de fato com o nome Lee Jackson. O conjunto contava com: Luiz Carlos Maluly (guitarra, craviola e harmônica): Maynard (teclados); Sérgio Lopes (baixo e sintetizador); Cláudio Condé – o “Italiano” – (depois substituído por Raymond Mattar, vocal); e Felipe Dib Neto, (bateria, em seguida, Marco Aurélio Bissi). A carreira vitoriosa do Lee Jackson começou com o compacto “Hey girl”, sua marca registrada, lançado em 1972. O auge do Lee Jackson é o LP “Rock Samba” (1976), produzido no Brasil pelo lendário Bill Haley.


Memphis fez escola

O Memphis, do qual ainda participariam Osvaldo Rizzo Filho (percussão), o guitarrista Wander Taffo e o baterista Gel Fernandes (futuros Rádio Táxi), Hélio Eduardo Costa Manso (também conhecido como Steve MacLean, que tocaria no grupo Sunday, teclados e vocais) e Carlos Alberto Marques, o Carlinhos (guitarra, vocal, flauta e sax), gravou mais três compactos: os simples "Going next to the one I love"/"Nature! Nature!", de 1972; “Such a beautiful day”/“Love at first sight”, de 1973; e o duplo "My world is you"/"Floating words"/"I wonna be happy"/"Get back", de 1974.
Ainda nesse ano, Pete Dunaway lança seu primeiro e bem-sucedido LP solo, puxado pelo hit arrasa-quarteirão “You’re the reason”, o que consolida sua carreira.

Em 1978, Dudu França estouraria nacionalmente com “Grilo na cuca”. Nos compactos do Memphis, Dudu França era Joe Bridges, uma tradução brincalhona de seu nome de batismo, José (Joe) Eduardo França Pontes (Bridges). Nos discos, Carlinhos também aparecia como Charlie, Charles Marx ou Mr. Charlie. Ele é o autor do maior sucesso do Memphis, “Sweet Daisy”. Nos anos 80, o Rádio Táxi de Wander Taffo e Gel Fernandes invadiria as paradas com megassucessos como “Garota dourada” e “Eva”.


O legado

Missão cumprida, o Memphis duraria até 1976. Com a alvorada da Era Disco nos pés de John Travolta e nos vocais edulcorados dos Bee Gees, todo mundo só queria saber dos embalos de sábado à noite. A porta dos clubes se fechara para os conjuntos. Era o fim das românticas domingueiras.
No encarte do CD triplo “Rock ‘n’ Roll Celebration”, de 2001, Dudu, em inspirado depoimento a Pedro Autran, resumiu a importância do Memphis na história do pop brasileiro: “O Memphis era para nós uma coisa até mágica. Nós tínhamos a convicção de que éramos os melhores. E, na realidade, tínhamos um vocal e um instrumental muito bom, principalmente quando eu, o Otavinho e o Carlinhos fazíamos a linha de frente do vocal. Depois, tivemos outra fase muito boa, com o Wander Taffo na guitarra, o Hélio Costa Manso nos teclados, o Gel (Gelson Luiz Fernandes) na bateria, o Nescau e eu tocando flauta. Até aprendi expressão corporal para ficar lá na frente. Para mim, foi uma escola, que me ajuda até hoje. Era uma superbanda.”" por Silvio Atanes

O Homem Traça diz: ROAM!

   

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